quinta-feira, maio 11, 2006

Os "malhetes" aplicados nos suportes de madeira na pintura de cavalete.

Os malhetes - ou também chamadas duplas caudas de andorinha - estiveram sempre de alguma forma associados aos suportes de madeira pintada, como elementos de reforço estrutural das tábuas pintadas. Estas peças executadas normalmente em madeira de um só elemento, cortadas de forma trapezoidal, foram originalmente utilizadas em Italia na tecnologia de construção dos suportes de pintura sobre madeira, pelos então destacados "legnaiolos" ou "panel-makers". A ideia de usar tais elementos já vinha das estruturas retabulares - nos elementos apainelados dentro dos nichos - bem como do mobiliário medieval.
Em Itália, nos suportes pintados em madeira de choupo (populus sp.), os malhetes eram aplicados pela frente do painel, atravessando-o até ao verso (fora-a-fora), numa primeira fase, e escondidos pelo verso, numa segunda fase. depois então é aplicado o gesso preparatório á execução pictórica.
Com o tempo, as técnicas construtivas foram-se modificando e aperfeiçoando, sendo introduzidos outros elementos de reforço de junta tais como respigas cilindricas de madeira (ou tarugos) e, em tábuas de maior espessura, a inovação da taleira, flutuante num furo préviamente aberto com bedames.
Os malhetes tornaram-se, por ocasionalidade, elementos de recurso a restauros de estrutura dos painéis (foto acima), solucionando problemas de abertura de juntas e de fendas resultantes de stress da madeira entretanto libertada das suas molduras originais, nas inúmeras remodelações retabulares e trocas comerciais que a história de arte se encarrega de estudar.
Nos tempos de hoje, o diagnóstico do estado de conservação de um painel pintado cai muitas vezes na anotação de problemas referentes à existência destes malhetes de restauro e de como os mesmos estão a comportar-se na peça e que repercussões transmitiram à superfície pintada.

4 comentários:

Unknown disse...

Para uma breve descrição de técnicas medievais europeias de ensamblagens de peças, ver este link:
http://www.medievalwoodworking.com/articles/joinery.html

Unknown disse...

Os malhetes aplicados em restauros antigos de suportes pintados costumam perder a sua função, normalmente por 2 razões: ou por stress da madeira, causando fendimento da peça e transmissão de fissurações ao suporte - e á pintura - ou por destacamento da peça por perda de adesão do aglutinante usado na colagem, o qual normalmente usado era uma cola animal. No primeiro caso, o stress é causado pela prisão da madeira no furo concebido ao encaixe, prisão essa que não permite a qualidade higroplástica natural da madeira. O caso agrava-se porque ambas as peças - malhete e prancha pintada - têm o fio da madeira corrido em direcções perpendiuculares. Sabendo-se que o quociente elástico é sempre maior no sentido transversal ao fio, cada uma destas peças tende a um "trabalho" natural da madeira. Sempre que este movimento é travado, a madeira tem de reagir noutro sentido, que na prática resume-se na libertação de stress por fractura no material lenhoso, ocorrendo então fissurações e fendimentos.

Cristiano Gracio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Armando L. Gonzaga disse...

Os malhetes,laçarotes ou "dupla cauda de andorinha"são um pouco mais antigos.Os carpinteiros navais egípcios já os usavam,2000 anos A.C.,para emendar peças pequenas de madeira,na construção de seus barcos.A escassês de madeira no Egito obrigava ao aproveitamento até das peças menores.Depois de pronto o casco era calafetado com betume e forrado de couro.
O laçarote produzido com madeira sêca não precisa cola desde que a abertura ,onde será aplicado estiver bem exata.